"Praias isoladas do litoral sul da Bahia se exibem em viagem de bicicleta" Viagem em Pauta http://viagemempauta.com.br/2016/01/11/praias-isoladas-do-litoral-sul-da-bahia-se-exibem-em-viagem-de-bicicleta/
Praias isoladas do litoral sul da Bahia se exibem em viagem de bicicleta
Lá no alto do Quadrado, a vida se arrasta no ritmo de sempre.
A mulata do vestido florido desfila no meio da praça, o jovem da barba rala entorta mais um arame para sua arte hippie e o casal apaixonado risca o chão de areia com seu andar sem pressa, entre casas de fachadas fotogênicas e restaurantes de luminária na porta.
Mas lá em baixo, Trancoso exibe sua versão mais isolada e desconhecida.
É nas praias do litoral sul da Bahia, região que foi considerada tendência em 2016, onde carros não entram e banhistas só chegam com certo esforço, que acontecem as travessias em bike, entre Porto Seguro e Caraíva, uma viagem de quase 50 km, feita sobre duas rodas e combinada com um trekking, no trecho final.
Praias muvucadas e barracas com música de gosto duvidoso, não têm.
Mas pode esperar encontrar extensas faixas de areia onde você e seu guia serão os únicos; piscinas naturais que emergem bem na beira da praia, durante a maré preguiçosa; falésias imponentes que se erguem sobre nossas cabeças, como se espiassem o mar ali em frente; e uma sequência de outros cenários que só podem ser vistos por quem chega a pé ou de bicicleta.
Recentemeente, o Viagem em Pauta subiu em uma bicicleta para conhecer dois roteiros exclusivos a bordo de uma magrela (entre Porto Seguro e Trancoso; e outro dali para a Praia da Espelho) e um trekking de 11km, entre Espelho e Caraíva).
Confira os detalhes da viagem:
Após cruzarem em balsa o rio Buranhém até Arraial d’Ajuda, os ciclistas posicionam as magrelas nas areias firmes da praia Apaga-Fogo.
Nessa primeira etapa de 6 km de extensão, os viajantes passam também pelas praias de Araçaípe, Delegado, dos Pescadores, Mucugê, Pitinga e Taípe, todas em Arraial d’Ajuda.
As variações de altitude são pequenas e o terreno é de areia batida, o que facilita a vida dos esportistas de primeira viagem, sobretudo quando convenientes ventos dão um empurrãozinho.
Esse trecho é marcado também por longas barreiras de corais que represam águas mornas, em piscinas naturais; mar de ondas fracas e uma vegetação formada por amendoeiras e coqueiros, cujas sombras servem de refúgio nas horas de sol forte. A civilização ainda dá as caras, em forma de condomínios fechados, beach clubs e até um parque aquático que costuma congestionar as areias de Mucugê.
A partir de Pitinga, a jornada ganha cenários selvagens, marcados por areia mais firme, piscinas naturais de águas mornas que se formam na maré baixa e ondas fortes que quebram nos recifes que margeiam a orla.
O ciclista segue atento no pedal rumo a Trancoso, mas é em Pitinga que os olhos são desviados para a mais exibida das atrações naturais da região. É ali que se localizam as falésias recortadas por trechos de Mata Atlântica que se fundem naqueles paredões de tons que vão do mais claro ao alaranjado.
E quando o corpo começa a dar sinais de cansaço, sob sol em posição mais avançada do dia e areias que às vezes travam rodas, a praia de Rio da Barra, na divisa com Trancoso, recepciona ciclistas cansados com a foz que empresta seu nome para o local, cujas águas redesenham, constantemente, as faixas de areia e as praias não podem ser acessadas de carro.
O banho de rio é demorado e a sensação de isolamento só é interrompida com a presença de um ou outro banhista que chega por ali, com os raros visitantes que cruzam a praia sobre cavalos e pelas tartarugas marinhas que costumam frequentar a região.
De resto, é aproveitar sem pressa um dos cenários mais impactantes do litoral de Arraial d’Ajuda, antes de fincar as rodas no próximo destino.
O areião batido recortado por coqueiros segue ajudando nas pedaladas e a sofisticada (e cara) Trancoso vai pintando lá no fundo da praia, cujo primeiro destino é a Praia dos Nativos, a mais próxima do vilarejo.
Depois de quase 20 km de pedal e 2h16 em constante movimento, os ciclistas tomam a estrada de terra que cruza o rio Trancoso sobre uma ponte rústica de madeira e seguem ladeira acima até o Quadrado, a famosa praça (retangular, é bom lembrar) que abriga as principais atrações desse distrito do município de Porto Seguro, como a igreja de São João Batista, padroeiro local.
O segundo dia é duro e pede concentração para pedalar em terreno de areia fofa, cruzar rios e grandes extensões de praia (quase) sem sombra, e empurrar bicicleta em momentos de natureza teimosa.
Mas todo o esforço será recompensado com baías de águas quentinhas, barreiras de corais na beira da praia e uma sensação de exclusividade que poucos conseguem sentir por ali.
A cada nova curva no final da praia, o ciclista é recebido com um cenário diferente.
Essa etapa começa com a travessia bucólica em uma ponte de madeira sobre um mangue que dá acesso à Praia dos Coqueiros, a faixa de areia mais próxima a Trancoso. Dali para frente, a sensação de ser o único vai crescendo, conforme o ciclista avança rumo ao sul e passa por longas extensões de praias com piscinas naturais e quase todas sem acesso para carros, como Itapororoca e Itaquena, essa última localizada em uma área preservada, conhecida como Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades.
A parada seguinte é no Rio dos Frades, um ponto isolado, frequentado apenas por pescadores locais. Ali, é você, sua magrela (que deve ser erguida para cruzar o rio que separa a praia seguinte) e uma cênica faixa de areia que pede uma parada mais longa.
Em dias de maré cheia, é necessário contratar um dos barquinhos dos moradores locais para cruzar o rio (e se você não souber assobiar forte para chamar o pescador na outra margem, programe-se para levar um apito).
Na sequência, os ciclistas passam também por Jacumã e Curuípe, cujos tons exagerados das águas compensam a rigidez desse que é um dos dias mais exigentes de toda a travessia de 3 dias pelo litoral sul da Bahia.
A gente já vai quase desistindo de pedalar sob sol forte e extensões de areia que parecem não ter fim, mas o último destino do segundo dia é daqueles lugares que fazem a gente jogar a bicicleta no chão, respirar fundo e apreciar, paralisado, o cenário mais exibido do roteiro: a Praia do Espelho, o nome fantasia da Praia do Curuípe.
Esse pedaço exclusivo do litoral sul baiano é figura fácil nas listas que enumeram as melhores praias do Brasil. E, para se convencer disso, é só subir em algum dos mirantes com vista para aquele mar de tons variados, recortado por falésias, ou se deitar em uma das almofadas espalhadas pelos bares pé na areia do local (todos com cobrança de taxa de uso ou consumo mínimo).
Confira álbum de fotos do trecho Trancoso – Praia do Espelho
A sofisticação seletiva da Praia do Espelho vai dando lugar a um cenário selvagem que parece da época em que Cabral aportara por ali, em 1500. Nesse trecho, o mais isolado e impressionante, os ciclistas passam pela Praia da Juacema, rio Juacema, Lagoa do Satu e Praia da Barra.
E vai se preparando para ver tudo outra vez, como se fosse a primeira. Longas faixas douradas, coqueiros retorcidos que quase tocam o mar, águas que vão do verde até tons que a gente não consegue descrever, piscinas rasas para banho e mais nada ou ninguém.
Nem sempre é possível tomar banho de mar, naquelas paragens de mar aberto e agitado, mas Juacema e a Lagoa do Satu servem de refúgio para a hora do lanche de trilha e para mergulhos em águas doces.
Cortado pelo rio de mesmo nome, o distrito de Caraíva vai apontando lá no fundo, isolado de outros endereços baianos que se entregaram às facilidades modernas.
A mudança nesse distrito, a 120 km de Porto Seguro, são lentas e tudo parece como antes. Antigo reduto de viajantes alternativos, o local volta a ver aqueles jovens dos anos 80 retornarem com filhos.
Caraíva é a Bahia que não deixa a gente querer voltar para casa, que nos convida a caminhar por ruas estreitas de areia que beiram o rio e risca o casario colorido de fachadas simples e eletricidade subterrânea, recém-chegada à região, uma solução exigida pela própria população local que trocou o ronco dos geradores pela invisibilidade dos cabos de luz enterrados, há 6 anos.
Carros não entram ali, que devem ficar estacionados na dispensável Nova Caraíva, na outra margem do rio, e o transporte administrado por índios pataxós ainda é feito em canoas de madeira, sobre o lombo de animais ou em charretes.
Naquelas terras onde a curta alta temporada vai apenas do Natal ao Carnaval, a sensação de que tudo segue igual se repete, quando a Bahia, mais uma vez, mostra sua versão mais isolada do seu litoral sul.
Trekking entre Espelho e Caraiva ( foto: Eduardo Vessoni )
SAIBA MAIS
A agência Bahia Active, especializada em cicloturismo e trekkings, conta com 11 roteiros com diferentes graus de dificuldade pela Costa do Descobrimento, origem da história do Brasil e tombada como Patrimônio Natural Mundial pela Unesco.
Os valores incluem seguro individual com cobertura de até 3 mil reais, transfer, guias credenciados que falam português, inglês ou espanhol, lanches de trilha, bicicletas e equipamento de ciclismo. A partir de R$ 170 (pedalada entre Porto Seguro e Arraial d’Ajuda).
www.bahiaactive.com.br
ONDE FICAR
→ em Porto Seguro
No Hotel Estalagem, localizado no tranquilo bairro de Pacatá, a história ajuda a criar o ambiente desse empreendimento com 24 quartos. Em funcionamento em um casarão de 1810, cujas portas têm ferraduras em referência aos cavalos que passavam na rua em frente, abriga um portal reformado de 1910, feito com pedras de corais e revestido com óleo de baleia, e a reprodução no balcão da recepção de um trecho da carta de Pero Vaz de Caminha, escrivão da armada de Pedro Álvares Cabral.
É daqui que partem os grupos de ciclismo pelo sul da Bahia.
Rua Marechal Deodoro, 66 – Centro (a 1,9 km do aeroporto e a 750 metros da Passarela do Álcool)
Tel.: (73) 3288-2095 / 3012-0040
www.hotelestalagem.com.br
→ em Trancoso
Pousada Capim SantoLocalizado em um jardim de 10 mil m², a um quarteirão do Quadrado, a pousada é um daqueles lugares que fazem a gente não querer sair daqueles quartos de dimensões generosas, com decoração rústica. Destaque para o café da manhã bem servido com sucos, frutas, bolos, pães, queijos, sanduíches, mingau, iogurte, chás, frios, pães de queijo, panquecas, rabanadas, granola, tapioca, ovos diversos e (ufa!) café.
Rua do Beco 55 – Quadrado
Tel.: (73) 3668-1122
www.capimsanto.com.br
→ em Caraíva
Localizada em uma área de 7.000 m², a Pousada Lagoa abriga bangalôs de decoração rústica que variam de 24 a 46 m², onde a proprietária Ermínia recebe forasteiros como se fossem velhos amigos vindos de longe. Destaque para o lounge do Restaurante Lagoa que abriga sessões de música comandadas por Djs, uma das opções de vida noturna mais concorrida do povoado.
Tel.: (73) 3668-5059 / 9985-6862
www.lagoacaraiva.com.br
ONDE COMER
Os restaurantes ao longo dos roteiros sobre bicicleta podem variar de acordo com a disponibilidade e a preferência do grupo, mas o Viagem em Pauta listou os melhores lugares por onde passamos, nos três dias de viagem.
→ O Bistrô (Porto Seguro)
Há quase uma década, a simpática Helô recebe clientes nesse casarão discreto com mesas no jardim para até 40 pessoas.
Destaque para as lambretas gratinadas e para o prato Baile Perfumado (filé grelhado com limão, ervas frescas, manjericão, tomilho, sálvia e alecrim). O variado menú conta também com opções como ceviche de banana com arroz de coco e filé, camarão com creme de banana, risoto de lagosta na manteiga de alecrim.
Rua Marechal Deodoro, 172
Tel.: (73) 3288-3940 / 9141-4999
Recomenda-se fazer reserva
→ Restaurante Rabanete (Trancoso)
Esta é uma das raras opções para o almoço no distrito de Trancoso, em pleno Quadrado. Com sistema self service, o restaurante abre, diariamente, das 12h às 17, e o quilo custa R$ 51,99.
→ Restaurante Capim Santo (Trancoso)
Com uma filial na Vila Madalena, em São Paulo, esse restaurante é uma das opções mais concorridas de Trancoso e funciona no destino, há 30 anos. Destaques para a Lagosta no Abacaxi e para os drinques com capim santo.
Rua do Beco 55 – Quadrado
Tel.: (73) 3668-1122
www.capimsanto.com.br
→ Pousada do Outeiro (Praia do Espelho/Curuípe)
A comida chega à mesa com certa demora e com acertos a serem feitos no tempo de preparo. Mas os clientes parecem não se importar com isso nesse hotel, erguido no alto de uma colina, que oferece vista exclusiva da Praia do Espelho, a partir da piscina.
Tel.: (73) 3668-5044
www.pousadaouteirodasbrisas.com.br
→ Boteco do Pará (Caraíva)
Localizado em ponto estratégico, às margens do rio e na rua principal do povoado, esse bar tem cardápio enxuto como moquecas e arroz de polvo, e preços que pesam no bolso. Destaque para o concorrido pastel de carne de raia.
www.botecodoparacaraiva.com.br
A mulata do vestido florido desfila no meio da praça, o jovem da barba rala entorta mais um arame para sua arte hippie e o casal apaixonado risca o chão de areia com seu andar sem pressa, entre casas de fachadas fotogênicas e restaurantes de luminária na porta.
Mas lá em baixo, Trancoso exibe sua versão mais isolada e desconhecida.
É nas praias do litoral sul da Bahia, região que foi considerada tendência em 2016, onde carros não entram e banhistas só chegam com certo esforço, que acontecem as travessias em bike, entre Porto Seguro e Caraíva, uma viagem de quase 50 km, feita sobre duas rodas e combinada com um trekking, no trecho final.
Praias muvucadas e barracas com música de gosto duvidoso, não têm.
Mas pode esperar encontrar extensas faixas de areia onde você e seu guia serão os únicos; piscinas naturais que emergem bem na beira da praia, durante a maré preguiçosa; falésias imponentes que se erguem sobre nossas cabeças, como se espiassem o mar ali em frente; e uma sequência de outros cenários que só podem ser vistos por quem chega a pé ou de bicicleta.
Recentemeente, o Viagem em Pauta subiu em uma bicicleta para conhecer dois roteiros exclusivos a bordo de uma magrela (entre Porto Seguro e Trancoso; e outro dali para a Praia da Espelho) e um trekking de 11km, entre Espelho e Caraíva).
Confira os detalhes da viagem:
⇒ Porto Seguro – Trancoso (18,1 km)
A travessia começa em Porto Seguro, o centro nervoso do litoral sul baiano que trocou a serenidade de suas águas mansas para se embriagar na rua que virou passarela e em barracas de axé, e segue até Caraíva, quase 50 km depois.Após cruzarem em balsa o rio Buranhém até Arraial d’Ajuda, os ciclistas posicionam as magrelas nas areias firmes da praia Apaga-Fogo.
Nessa primeira etapa de 6 km de extensão, os viajantes passam também pelas praias de Araçaípe, Delegado, dos Pescadores, Mucugê, Pitinga e Taípe, todas em Arraial d’Ajuda.
As variações de altitude são pequenas e o terreno é de areia batida, o que facilita a vida dos esportistas de primeira viagem, sobretudo quando convenientes ventos dão um empurrãozinho.
Esse trecho é marcado também por longas barreiras de corais que represam águas mornas, em piscinas naturais; mar de ondas fracas e uma vegetação formada por amendoeiras e coqueiros, cujas sombras servem de refúgio nas horas de sol forte. A civilização ainda dá as caras, em forma de condomínios fechados, beach clubs e até um parque aquático que costuma congestionar as areias de Mucugê.
A partir de Pitinga, a jornada ganha cenários selvagens, marcados por areia mais firme, piscinas naturais de águas mornas que se formam na maré baixa e ondas fortes que quebram nos recifes que margeiam a orla.
O ciclista segue atento no pedal rumo a Trancoso, mas é em Pitinga que os olhos são desviados para a mais exibida das atrações naturais da região. É ali que se localizam as falésias recortadas por trechos de Mata Atlântica que se fundem naqueles paredões de tons que vão do mais claro ao alaranjado.
E quando o corpo começa a dar sinais de cansaço, sob sol em posição mais avançada do dia e areias que às vezes travam rodas, a praia de Rio da Barra, na divisa com Trancoso, recepciona ciclistas cansados com a foz que empresta seu nome para o local, cujas águas redesenham, constantemente, as faixas de areia e as praias não podem ser acessadas de carro.
O banho de rio é demorado e a sensação de isolamento só é interrompida com a presença de um ou outro banhista que chega por ali, com os raros visitantes que cruzam a praia sobre cavalos e pelas tartarugas marinhas que costumam frequentar a região.
De resto, é aproveitar sem pressa um dos cenários mais impactantes do litoral de Arraial d’Ajuda, antes de fincar as rodas no próximo destino.
O areião batido recortado por coqueiros segue ajudando nas pedaladas e a sofisticada (e cara) Trancoso vai pintando lá no fundo da praia, cujo primeiro destino é a Praia dos Nativos, a mais próxima do vilarejo.
Depois de quase 20 km de pedal e 2h16 em constante movimento, os ciclistas tomam a estrada de terra que cruza o rio Trancoso sobre uma ponte rústica de madeira e seguem ladeira acima até o Quadrado, a famosa praça (retangular, é bom lembrar) que abriga as principais atrações desse distrito do município de Porto Seguro, como a igreja de São João Batista, padroeiro local.
⇒ Trancoso – Praia do Espelho (20,6 km)
A viagem sobre bicicleta pelo litoral sul baiano segue um roteiro crescente, que começa em praias mais urbanas e continua por áreas isoladas, entre Trancoso e a Praia do Espelho, considerada uma das mais bonitas do Brasil.O segundo dia é duro e pede concentração para pedalar em terreno de areia fofa, cruzar rios e grandes extensões de praia (quase) sem sombra, e empurrar bicicleta em momentos de natureza teimosa.
Mas todo o esforço será recompensado com baías de águas quentinhas, barreiras de corais na beira da praia e uma sensação de exclusividade que poucos conseguem sentir por ali.
A cada nova curva no final da praia, o ciclista é recebido com um cenário diferente.
Essa etapa começa com a travessia bucólica em uma ponte de madeira sobre um mangue que dá acesso à Praia dos Coqueiros, a faixa de areia mais próxima a Trancoso. Dali para frente, a sensação de ser o único vai crescendo, conforme o ciclista avança rumo ao sul e passa por longas extensões de praias com piscinas naturais e quase todas sem acesso para carros, como Itapororoca e Itaquena, essa última localizada em uma área preservada, conhecida como Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades.
A parada seguinte é no Rio dos Frades, um ponto isolado, frequentado apenas por pescadores locais. Ali, é você, sua magrela (que deve ser erguida para cruzar o rio que separa a praia seguinte) e uma cênica faixa de areia que pede uma parada mais longa.
Em dias de maré cheia, é necessário contratar um dos barquinhos dos moradores locais para cruzar o rio (e se você não souber assobiar forte para chamar o pescador na outra margem, programe-se para levar um apito).
Na sequência, os ciclistas passam também por Jacumã e Curuípe, cujos tons exagerados das águas compensam a rigidez desse que é um dos dias mais exigentes de toda a travessia de 3 dias pelo litoral sul da Bahia.
A gente já vai quase desistindo de pedalar sob sol forte e extensões de areia que parecem não ter fim, mas o último destino do segundo dia é daqueles lugares que fazem a gente jogar a bicicleta no chão, respirar fundo e apreciar, paralisado, o cenário mais exibido do roteiro: a Praia do Espelho, o nome fantasia da Praia do Curuípe.
Esse pedaço exclusivo do litoral sul baiano é figura fácil nas listas que enumeram as melhores praias do Brasil. E, para se convencer disso, é só subir em algum dos mirantes com vista para aquele mar de tons variados, recortado por falésias, ou se deitar em uma das almofadas espalhadas pelos bares pé na areia do local (todos com cobrança de taxa de uso ou consumo mínimo).
Confira álbum de fotos do trecho Trancoso – Praia do Espelho
⇒ Praia do Espelho – Caraíva (11 km)
No terceiro e último dia de viagem, as bicicletas dão lugar à caminhada que segue até Caraíva, a versão mais rústica e pé na areia de todo o roteiro, onde as magrelas nem sempre são bem-vindas, devido ao terreno arenoso mais instável e trilhas interiores por chão irregular e íngreme.A sofisticação seletiva da Praia do Espelho vai dando lugar a um cenário selvagem que parece da época em que Cabral aportara por ali, em 1500. Nesse trecho, o mais isolado e impressionante, os ciclistas passam pela Praia da Juacema, rio Juacema, Lagoa do Satu e Praia da Barra.
E vai se preparando para ver tudo outra vez, como se fosse a primeira. Longas faixas douradas, coqueiros retorcidos que quase tocam o mar, águas que vão do verde até tons que a gente não consegue descrever, piscinas rasas para banho e mais nada ou ninguém.
Nem sempre é possível tomar banho de mar, naquelas paragens de mar aberto e agitado, mas Juacema e a Lagoa do Satu servem de refúgio para a hora do lanche de trilha e para mergulhos em águas doces.
Cortado pelo rio de mesmo nome, o distrito de Caraíva vai apontando lá no fundo, isolado de outros endereços baianos que se entregaram às facilidades modernas.
A mudança nesse distrito, a 120 km de Porto Seguro, são lentas e tudo parece como antes. Antigo reduto de viajantes alternativos, o local volta a ver aqueles jovens dos anos 80 retornarem com filhos.
Caraíva é a Bahia que não deixa a gente querer voltar para casa, que nos convida a caminhar por ruas estreitas de areia que beiram o rio e risca o casario colorido de fachadas simples e eletricidade subterrânea, recém-chegada à região, uma solução exigida pela própria população local que trocou o ronco dos geradores pela invisibilidade dos cabos de luz enterrados, há 6 anos.
Carros não entram ali, que devem ficar estacionados na dispensável Nova Caraíva, na outra margem do rio, e o transporte administrado por índios pataxós ainda é feito em canoas de madeira, sobre o lombo de animais ou em charretes.
Naquelas terras onde a curta alta temporada vai apenas do Natal ao Carnaval, a sensação de que tudo segue igual se repete, quando a Bahia, mais uma vez, mostra sua versão mais isolada do seu litoral sul.
Trekking entre Espelho e Caraiva ( foto: Eduardo Vessoni )
SAIBA MAIS
A agência Bahia Active, especializada em cicloturismo e trekkings, conta com 11 roteiros com diferentes graus de dificuldade pela Costa do Descobrimento, origem da história do Brasil e tombada como Patrimônio Natural Mundial pela Unesco.
Os valores incluem seguro individual com cobertura de até 3 mil reais, transfer, guias credenciados que falam português, inglês ou espanhol, lanches de trilha, bicicletas e equipamento de ciclismo. A partir de R$ 170 (pedalada entre Porto Seguro e Arraial d’Ajuda).
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DICAS PARA PEDALAR NO SUL DA BAHIA
• Não importa o mês do ano para colocar as magrelas na areia. O mais importante é a fase da Lua, como a Cheia e a Nova que proporcionam maiores extensões de areia para pedalar;
• Seja rígido na pedalada, uma vez que a maré costuma cobrir alguns trechos de praia, a partir de certos horários do dia;
• Embora seja difícil ter dias inteiros com chuva, a temporada chuvosa do litoral sul da Bahia costuma ir de junho a agosto;
• Para participar das travessias de bicicleta não é necessário ser ciclista ou atleta, mas ter bom preparo físico, realizar atividades físicas com frequência e ter, no mínimo, 15 anos de idade;
• Como nem sempre é possível passar a noite no hotel de origem, leve uma pequena mochila com roupa de banho, peças leves, protetor solar, boné, repelente e objetos de higiene pessoal;
• Os roteiros não contam com carro de apoio, devido às praias isoladas, mas os grupos de, no mínimo, dois ciclistas são acompanhados por dois guias.
• As reservas devem ser feitas com até 24 horas de antecedência e é recomendável chegar a Porto Seguro um dia antes, pois são roteiros que começam bem cedo;
• Sim, é seguro pedalar naquelas praias isoladas, tanto nas áreas mais urbanizadas como nos trechos em que seguranças de pousadas e residências fazem a vigilância.
• Não importa o mês do ano para colocar as magrelas na areia. O mais importante é a fase da Lua, como a Cheia e a Nova que proporcionam maiores extensões de areia para pedalar;
• Seja rígido na pedalada, uma vez que a maré costuma cobrir alguns trechos de praia, a partir de certos horários do dia;
• Embora seja difícil ter dias inteiros com chuva, a temporada chuvosa do litoral sul da Bahia costuma ir de junho a agosto;
• Para participar das travessias de bicicleta não é necessário ser ciclista ou atleta, mas ter bom preparo físico, realizar atividades físicas com frequência e ter, no mínimo, 15 anos de idade;
• Como nem sempre é possível passar a noite no hotel de origem, leve uma pequena mochila com roupa de banho, peças leves, protetor solar, boné, repelente e objetos de higiene pessoal;
• Os roteiros não contam com carro de apoio, devido às praias isoladas, mas os grupos de, no mínimo, dois ciclistas são acompanhados por dois guias.
• As reservas devem ser feitas com até 24 horas de antecedência e é recomendável chegar a Porto Seguro um dia antes, pois são roteiros que começam bem cedo;
• Sim, é seguro pedalar naquelas praias isoladas, tanto nas áreas mais urbanizadas como nos trechos em que seguranças de pousadas e residências fazem a vigilância.
ONDE FICAR
→ em Porto Seguro
No Hotel Estalagem, localizado no tranquilo bairro de Pacatá, a história ajuda a criar o ambiente desse empreendimento com 24 quartos. Em funcionamento em um casarão de 1810, cujas portas têm ferraduras em referência aos cavalos que passavam na rua em frente, abriga um portal reformado de 1910, feito com pedras de corais e revestido com óleo de baleia, e a reprodução no balcão da recepção de um trecho da carta de Pero Vaz de Caminha, escrivão da armada de Pedro Álvares Cabral.
É daqui que partem os grupos de ciclismo pelo sul da Bahia.
Rua Marechal Deodoro, 66 – Centro (a 1,9 km do aeroporto e a 750 metros da Passarela do Álcool)
Tel.: (73) 3288-2095 / 3012-0040
www.hotelestalagem.com.br
→ em Trancoso
Pousada Capim SantoLocalizado em um jardim de 10 mil m², a um quarteirão do Quadrado, a pousada é um daqueles lugares que fazem a gente não querer sair daqueles quartos de dimensões generosas, com decoração rústica. Destaque para o café da manhã bem servido com sucos, frutas, bolos, pães, queijos, sanduíches, mingau, iogurte, chás, frios, pães de queijo, panquecas, rabanadas, granola, tapioca, ovos diversos e (ufa!) café.
Rua do Beco 55 – Quadrado
Tel.: (73) 3668-1122
www.capimsanto.com.br
→ em Caraíva
Localizada em uma área de 7.000 m², a Pousada Lagoa abriga bangalôs de decoração rústica que variam de 24 a 46 m², onde a proprietária Ermínia recebe forasteiros como se fossem velhos amigos vindos de longe. Destaque para o lounge do Restaurante Lagoa que abriga sessões de música comandadas por Djs, uma das opções de vida noturna mais concorrida do povoado.
Tel.: (73) 3668-5059 / 9985-6862
www.lagoacaraiva.com.br
ONDE COMER
Os restaurantes ao longo dos roteiros sobre bicicleta podem variar de acordo com a disponibilidade e a preferência do grupo, mas o Viagem em Pauta listou os melhores lugares por onde passamos, nos três dias de viagem.
→ O Bistrô (Porto Seguro)
Há quase uma década, a simpática Helô recebe clientes nesse casarão discreto com mesas no jardim para até 40 pessoas.
Destaque para as lambretas gratinadas e para o prato Baile Perfumado (filé grelhado com limão, ervas frescas, manjericão, tomilho, sálvia e alecrim). O variado menú conta também com opções como ceviche de banana com arroz de coco e filé, camarão com creme de banana, risoto de lagosta na manteiga de alecrim.
Rua Marechal Deodoro, 172
Tel.: (73) 3288-3940 / 9141-4999
Recomenda-se fazer reserva
→ Restaurante Rabanete (Trancoso)
Esta é uma das raras opções para o almoço no distrito de Trancoso, em pleno Quadrado. Com sistema self service, o restaurante abre, diariamente, das 12h às 17, e o quilo custa R$ 51,99.
→ Restaurante Capim Santo (Trancoso)
Com uma filial na Vila Madalena, em São Paulo, esse restaurante é uma das opções mais concorridas de Trancoso e funciona no destino, há 30 anos. Destaques para a Lagosta no Abacaxi e para os drinques com capim santo.
Rua do Beco 55 – Quadrado
Tel.: (73) 3668-1122
www.capimsanto.com.br
→ Pousada do Outeiro (Praia do Espelho/Curuípe)
A comida chega à mesa com certa demora e com acertos a serem feitos no tempo de preparo. Mas os clientes parecem não se importar com isso nesse hotel, erguido no alto de uma colina, que oferece vista exclusiva da Praia do Espelho, a partir da piscina.
Tel.: (73) 3668-5044
www.pousadaouteirodasbrisas.com.br
→ Boteco do Pará (Caraíva)
Localizado em ponto estratégico, às margens do rio e na rua principal do povoado, esse bar tem cardápio enxuto como moquecas e arroz de polvo, e preços que pesam no bolso. Destaque para o concorrido pastel de carne de raia.
www.botecodoparacaraiva.com.br
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